Endividamento atinge quase 50 mil campistas

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Em 2022, o endividamento no Brasil bateu recorde e alcançou o maior índice em 12 anos, atingindo 79,3% das famílias, de acordo com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Em Campos, a situação não é diferente. Segundo dados da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), atualmente, o município tem 48.393 pessoas físicas registradas no Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), o que representa R$ 20.691.538,44 em dívidas acumuladas nos últimos cinco anos. Desemprego em alta, inflação de dois dígitos e pandemia são fatores apontados por especialistas como responsáveis para formar o “cenário perfeito” para a inadimplência das famílias. Na última semana, um mutirão limpa nome deu a oportunidade para que campistas com nomes negativados voltem a consumir em datas consideradas importantes para o setor varejista, como a Black Friday e o Natal.

Para a autônoma Jéssica Rodrigues dos Santos, a pandemia foi um período de dificuldade. Ela perdeu o emprego e acumulou dívidas. “Gosto de pagar minhas coisas em dia. Tenho três filhos e cuido deles sozinha, com a ajuda dos meus pais. Então, o acúmulo de dívidas foi por falta do trabalho. Eu trabalhava de carteira assinada, depois passei para trabalho intermitente. Tive que vender doces na rua e só agora consegui juntar dinheiro para pagar duas dívidas. Ainda falta o restante, mas, graças a Deus, eu consegui esse emprego”, disse Jéssica, que negociou suas dívidas no mutirão.

Viviane Pereira é autônoma e também acumulou dívidas por causa do cenário econômico desfavorável no país, nos últimos anos. “Trabalho com doces e, com o aumento do açúcar e do leite, ficou inviável trabalhar. O aumento dos preços no supermercado atrapalhou bastante e nós acabamos tendo que priorizar alimentação, água, luz e aí, o nome, através do qual temos a oportunidade de comprar no comércio, acabou ficando sujo”, ressaltou ela, que pagou o débito graças à renegociação das dívidas e, em cinco dias, estará apta a comprar.

Endividamento
Desvalorização do real, inflação, desemprego e até o baixo desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) são alguns dos motivos elencados pelo economista Alexandre Delvaux para o endividamento do brasileiro.

“A causa disso é a perda de valor da moeda; a inflação, que tem crescido nos últimos anos; o desemprego, que é um problema recorrente, embora nos últimos meses a taxa tenha caído um pouco; a queda da renda média da população e a redução do nível da atividade econômica, ou seja, o baixo crescimento do PIB. Tudo isso faz com que as famílias tenham dificuldades para receber ou manter seus rendimentos e pagar suas contas”.

Alexandre destaca que o endividamento no país vem crescendo. “As famílias têm dificuldade para manter o padrão, estão com parte dos seus rendimentos comprometidos com dívidas antigas, relacionadas a cartão, crédito consignado, carnê de loja, contas, escola. Elas estão enfrentando dificuldades e isso cria um problema secundário. Mesmo as que não têm dívidas vencidas, têm menor capacidade de consumir, porque parte dos seus rendimentos estão comprometidos com as contas a vencer”, pontua ele, que acrescenta que essas famílias deixam de comprar, o que põe em risco muitos postos de trabalho.

Para o economista, a solução vem do regramento. “As famílias que têm dívidas vencidas têm que pagar, porque elas custam caro. O primeiro passo é tentar resolver o problema da inadimplência. O segundo é diminuir o endividamento. Isso significa abrir mão de consumo e gastos que vão comprometer os rendimentos futuros”.

Mutirão
E, para recuperar o poder de consumo desses campistas, o “Mutirão Campos Limpa Nome” foi realizado nos dias 9 e 10 de novembro, no Boulevard Francisco de Paula Carneiro, no Centro. A iniciativa foi da CDL Jovem, em parceria com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico e Turismo e a Secretaria de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon). A meta da ação foi liberar créditos e movimentar o comércio.

“Observamos que são quase 50 mil CPFs negativados na cidade, o que significa cerca de R$ 20,6 milhões em dívidas no nosso comércio. Isso sem contar os débitos com as concessionárias Águas do Paraíba e Enel, operadoras de telefonia, rede bancária e de crédito. Se levarmos isso em consideração, o número de negativados é ainda maior. Analisando esses dados e vendo a proximidade com Black Friday, do Natal e da Copa, nós identificamos que seria uma data interessante para um movimento como esse, para reativar o crédito do consumidor e ele poder continuar consumindo ou, quem sabe, entrar em 2023 com o nome limpo”, comentou o presidente da CDL Jovem, Arthur Sá.

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