A Câmara de São João da Barra, por meio da Comissão Permanente de Defesa de Ecologia e Meio Ambiente, realizou uma audiência pública, nesta quarta (29), na Subprefeitura de Sabonete, para ouvir a população sobre uma decisão recente da Reserva Caruara: o fechamento de um acesso à oeste da unidade de conservação, por onde a população do 5º Distrito passava para chegar à Lagoa de Iquipari. A mudança vem afetando principalmente os pescadores. Participaram da audiência, os nove vereadores e vários secretários municipais. Embora convidada por meio de ofício, a Reserva Caruara não enviou nenhum representante.
O presidente da Comissão, vereador Analiel Vianna, explicou que é favorável ao trabalho de preservação ambiental, mas é contra o fechamento do acesso, por prejudicar a atividade pesqueira. Analiel também criticou a ausência de representante da Reserva Caruara – unidade de conservação do tipo RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural), criada pelo Porto do Açu, em 2012. “Há meses esse acesso está interrompido e é uma falta de consideração não ter ninguém do Porto aqui para debater esse assunto. Quero que vocês saibam que vamos avançar gradativamente. Nós convidamos e eles não vieram. Agora, vamos convocar e, se for preciso, montar uma CPI para investigar todos esses fatos”, observou.
Analiel recorda que o Legislativo tomou conhecimento da decisão por meio de um ofício enviado pela reserva, no mês passado, informando que o fechamento desse acesso seria necessário em razão da constatação de diversos danos ambientais à unidade, provocados por terceiros, que acessavam o local para realizar caça e pesca predatória na Lagoa de Iquipari, além de provocar supressão de vegetação e poluição. “A gente se preocupa com o meio ambiente e entende que, quem desrespeita as leis ambientais, deve sim, ser notificado e responsabilizado. Só não é justo punir todo mundo por causa de alguns”, observou.
Atualmente, o acesso à Lagoa de Iquipari, por terceiros, precisa ser feito por Grussaí. Para isso, os moradores do 5º Distrito precisam andar cerca de 40 quilômetros a mais. “Vamos procurar os meios cabíveis para resolver essa questão, porque nossa obrigação é legislar para todos vocês”, disse o presidente da Casa, Alan de Grussaí. Nascido e criado no 5º Distrito, Chico da Quixaba chegou a chorar ao comentar o fato. “Sou filho de pescador e isso não vai ficar assim. Se tem crime, tem que punir quem praticou e não impedir o acesso de todos”, disse Chico.
O secretário de Pesca, Aluizio Siqueira, colocou a pasta à disposição do Legislativo. “Quero parabenizar o povo aqui hoje, pois, sem essa presença maciça, essa luta começaria fraca. Que se puna, então, quem errou. O que não pode é punir todo mundo”. A secretária de Meio Ambiente, Marcela Toledo, disse que também ficou incomodada com o fechamento do acesso, principalmente por ser moradora da região. No entanto, lembrou que o impacto causado pelas mudanças climáticas tem sido grande e que é necessário proteger as riquezas naturais para garantir o futuro da humanidade. A subsecretária de Desenvolvimento Econômico e Tecnológico, Joice Pedra, que é bióloga e filha de pescadores, defende uma solução que não prejudique a comunidade. “A preservação ambiental tem que existir sim, mas tem que levar em consideração a sociedade”.
Agricultores e pescadores do 5º Distrito disseram que estão sendo bastante prejudicados com a medida. “Para a gente sair daqui e dar volta por Grussaí fica muito mais distante; muitos não têm condições e o combustível é caro. O pescador é visto como pequeno, mas ele tem direitos também. Sou a favor da preservação dos animais sim, mas tem horas que vejo algumas pessoas colocando os animais em primeiro lugar”, disse Cristiano, pescador de Água Preta. “Já tiraram nossas terras, já fecharam estradas de serventia… Agora, querem fechar a entrada da lagoa. Isso não existe. Os agricultores e pescadores não depredam não”, comentou a produtora rural, Noêmia Magalhães.