Os funcionários de um supermercado no Largo do Machado, na Zona Sul, investigados por cometer injúria contra uma comerciante, foram demitidos após o ocorrido. Eva Moema Nascimento Oliveira, 41 anos, foi acusada de furtar produtos do mercado Extra no dia 7 de janeiro — ela acredita ter sido vítima de racismo. O caso foi registrado na 9ª DP (Catete) como ‘fato atípico’, mas defesa quer mudar a tipificação para calúnia agravado pelo crime de racismo.
A comerciante relatou em depoimento na distrital que entrou na unidade para ver um produto, mas decidiu não levá-lo. Ao sair do mercado, foi seguida por três funcionários, que afirmaram que ela havia furtado uma caixa de leite e pediram para revistar sua bolsa. Ainda segundo Eva, ao perceber o engano, os funcionários teriam tentado convencê-la a não registrar o caso, oferecendo produtos em troca.
De acordo com o Extra, houve uma apuração interna na unidade e a companhia desligou os colaboradores envolvidos, “bem como, providenciou o reforço das ações relativas ao cumprimento de seu Código de Ética com colaboradores e prestadores de serviço”.
Ao DIA, o advogado de Eva, Rogério Gomes, disse que após os depoimentos de testemunhas o autor das acusações foi identificado como gerente do estabelecimento. Segundo o defensor, quem deve responder pelo crime e os danos causados à vítima é a rede de supermercados.
Ainda segundo Gomes, a tipificação, que está como ‘fato atípico’, pode mudar para injúria, mas ainda precisa ser apreciada pelo delegado titular da distrital. Apesar disso, o objetivo final da defesa é mudar a tipificação definitivamente por calúnia agravado pelo crime de racismo.
A Polícia Civil informou que o suspeito prestou depoimento na unidade nesta quinta-feira (1º). Na próxima segunda (5), uma nova testemunha de acusação deve prestar depoimento. O caso continua em investigação na 9ª DP (Catete).
Relembre o caso
Eva contou ao DIA que entrou no mercado para ver se encontrava camarão e após encontrar o produto, resolveu comprá-lo quando passasse novamente pela unidade para que o alimento não descongelasse. “Quando eu estava do lado de fora, veio um segurança e dois homens correndo atrás de mim na rua. Me perguntaram: ‘senhora, não esqueceu de pagar nada não?’. Eu falei que não e pediram para abrir minha bolsa porque viram eu furtar um leite. Eu falei que eles não iam abrir minha bolsa e liguei para o meu advogado”, contou.
A comerciante ainda revelou que nenhum supervisor ou gerente foi acionado para suporte e que os funcionários envolvidos no episódio teriam tentado convencê-la a não registrar o caso, oferecendo produtos que ela quisesse levar para casa.
Na delegacia, Eva contou também que um inspetor foi resistente em registrar o caso. “Eu só consegui fazer o boletim de ocorrência quando o meu advogado chegou. Ele perguntou: ‘cadê as outras partes envolvidas?’. Ninguém tinha encaminhado ninguém. Isso ia se declarar um flagrante de racismo e falsa acusação de roubo. Meu advogado conseguiu registrar o B.O, mas o inspetor colocou como fato átipico”, completou.
Eva tem uma loja de quentinhas e também trabalha há mais de 13 anos vendendo acarajé no Renascença Clube.