Profissionais de saúde de Campos e região recebem capacitação do Roda-Hans 2024

Campos dos Goytacazes

Campos recebe durante esta semana as ações do “Roda-Hans 2024 – Carreta da Saúde Hanseníase”. Entre elas está a capacitação de médicos, enfermeiros, fisioterapeutas e psicólogos da Atenção Primária à Saúde que aconteceu, nesta segunda-feira (17), no auditório da Faculdade de Medicina de Campos (FMC) e reuniu profissionais que atuam no município e também em Macaé, São João da Barra, Quissamã, São Fidélis, São Francisco de Itabapoana, Conceição de Macabu e Carapebus.

As equipes do Ministério da Saúde (MS), Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro (SES/RJ), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), dos municípios vizinhos e servidores de Campos foram recepcionados pelo secretário municipal de Saúde, Paulo Hirano, que fez a abertura oficial da capacitação, a qual classificou como uma jornada de muito trabalho e informação e, que com certeza, auxiliará no planejamento de novas estratégias no enfrentamento a essa doença secular.

“Doença muito antiga, mas que continua presente nos dias de hoje. Então tenho certeza que esse dia de trabalho vai trazer uma luz maior, vai nos orientar e, com certeza, tomaremos medidas eficientes que possamos avançar na detecção, no diagnóstico mais precoce possível de forma que possamos quebrar essas barreiras existentes. Barreiras que começam com o preconceito sobre a doença e isso dificulta o diagnóstico. Muitas das vezes as pessoas não querem ter esse diagnóstico e acabam fugindo da busca, da assistência contra a Hanseníase. É o estigma da lepra, que sempre excluía as pessoas. A sociedade precisa saber que esta doença, a Hanseníase, tem cura, que pode ser tratada numa fase precoce. Por isso, e sempre, a máxima da saúde na medicina é quanto mais precocemente você faz o diagnóstico, melhor será o tratamento, melhor será o resultado”, disse Hirano.

O panorama nacional da hanseníase foi apresentado por Reagan Nzundu, representante da Coordenação Geral de Vigilância da Hanseníase e Doenças em Eliminação (CGHDE)/ Departamento de Doenças Transmissíveis (DEDT), da Secretaria de Vigilância de Saúde e Ambiente (SVSA), do Ministério da Saúde.

“Nos últimos anos, a detecção da doença tem uma tendência decrescente da série histórica analisada. Tivemos no Brasil, de 2013 a 2022, uma redução de quase 37.4%. Essa redução pode ser vista com bons olhos, desde que a Atenção Primária e a Vigilância estejam fazendo seu principal papel, que é a busca de casos. Essa doença, nesse período, basicamente a proporção maior é em homens, faixa etária da população ativa. Uma coisa que já é consolidada na história e na literatura: a gente vê o acometimento muito grande da população negra. Quando você soma pardos e pretos representa mais de 70% dos casos diagnosticados, então é uma doença negligenciada e afeta uma população negligenciada no Brasil”, reforçou Reagan.

O gerente estadual do Programa de Hanseníase, André Luiz da Silva, ressaltou que a doença permanece endêmica e que a Região Norte é a segunda com o maior número de casos no estado do Rio de Janeiro, mas é uma doença ainda muito mascarada. Segundo ele, 35% das pessoas diagnosticadas com a doença estão produzindo alguma incapacidade física.

“Ela tem uma evolução lenta, silenciosa, mas as incapacidades físicas têm aumentado a cada ano em decorrência de um diagnóstico tardio. O objetivo desse treinamento que o Estado faz é tentar agravar a prática e a teoria. A gente aumenta a detecção de casos na medida que capacita os profissionais de Atenção Primária. Atenção Primária, as Unidades Básicas de Saúde, Centros Municipais de Saúde, Clínicas de Família são os locais mais privilegiados para a identificação de novos casos de forma precoce. E esses casos geralmente estão no domicílio dessas famílias e estão sem tratamento. A gente quer interromper a cadeia de transmissão, fazendo avaliação de contatos, identificando sinais e sintomas precoces a partir do trabalho da Estratégia Saúde da Família, do agente comunitário de saúde, dos médicos e enfermeiros da Atenção Primária”, disse, ressaltando que essa é a doença que expressa muito a desigualdade e iniquidade, mas se dissemina na população em geral.

A capacitação teórica foi ministrada pelos especialistas Maria Leide Oliveira, que é pesquisadora e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Graciela Pagliaro, da Coordenação de Ações em Saúde para População em Situação de Vulnerabilidade; Fernando Dutra, que é apoiador Regional Norte e Noroeste Fluminense do Programa de Hanseníase; Edson Araripe, biólogo e responsável pelo Laboratório de Baciloscopia da Fiocruz; Cristiane Domingues, enfermeira e responsável pelo Ambulatório de Hanseníase da Fiocruz; e Edilbert Pellegrini, dermatologista e diretor do Programa Municipal de Controle da Hanseníase em Campos. Os profissionais de saúde também participam de grupos de discussões de casos clínicos e treinamento de coleta de material para análise laboratorial.

A enfermeira Jacinta Medeiros, que atua na Unidade Básica de Saúde da Família da Penha, falou sobre a capacitação.

“O tema da capacitação é extremamente atual e importante. Ele tem um foco muito específico para a Atenção Primária, onde a gente consegue fazer diagnóstico precoce e evitar as incapacidades. Então, é muito relevante, o dia de hoje estar sendo muito aprendizado”, disse.

CARRETA RODA-HANS NA PRAÇA

A carreta do Roda-Hans está estacionada na Praça do Santíssimo Salvador. Nesta terça (18) e quarta-feira (19), haverá atendimento e avaliação dos contatos intradomiciliares de casos confirmados e casos suspeitos da doença de todo o município, com oferta, inclusive, de teste imunocromatográfico (teste rápido) para pessoas que vivem ou viveram, nos últimos cinco anos, com portador de hanseníase. Já nos dias 20 e 21, o atendimento no veículo é para campistas e pessoas de municípios vizinhos.

Sobre a incidência da Hanseníase em Campos, Edilbert Pellegrine explicou que os números não chegam a ser expressivos. 

Ano passado tivemos 30 casos e este ano, de janeiro a maio, foram 11 casos. Os números não são expressivos em termos de quantidade, porém o que importante é que temos pacientes que não foram diagnosticados e outra coisa que chama atenção é que muitos pacientes chegam para nós já com diagnóstico tardio e com incapacidade. E a incapacidade por Hanseníase leva a uma dificuldade de a pessoa entrar no mercado de trabalho, ela fica à mercê de benefícios públicos, dificuldade de manter sua família e, por isso, é importante a gente ter um olhar mais acurado na Atenção Básica e o diagnóstico mais precoce possível”, ressaltou.

O diagnóstico precoce da Hanseníase evita a incapacidade e a cura de faz com seis meses, além de evitar a transmissão para outras pessoas.

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