Desempregados encontram na panfletagem eleitoral uma fonte de renda

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Com o início da campanha eleitoral, diversas pessoas têm encontrado uma oportunidade de trabalho temporário na distribuição de panfletos para políticos. Em diferentes pontos das cidades é possível ver trabalhadores distribuindo ‘santinhos’ nas ruas e balançando bandeiras com rostos de políticos. Muitos desses se encontram em situação de vulnerabilidade econômica, e aproveitam a oportunidade para complementar a renda familiar.

Ganham em torno de R$ 60 a R$ 90 por dia para trabalhar de 6 a 8 horas diárias, de domingo a domingo. Ao final do mês, o lucro pode chegar a R$ 2.700. A reportagem entrevistou pessoas que chegam a ganhar R$ 130 por dia, mas não trabalham todos os dias na semana, por exemplo.

Mãe solo de três filhos menores de idade, Cíntia Oliveira da Silva, de 34 anos, encontrou na panfletagem para políticos uma chance de levar o sustento para casa. Apesar de cansativo, ela confessa que o salário, pago semanalmente, vai ajudar muito.

“É a minha primeira vez trabalhando com panfletagem nas ruas para políticos. Por estar desempregada e com três filhos para sustentar e criar, esse dinheirinho vai nos ajudar. Além de pagar as contas vou poder comprar um biscoito e iogurte diferente para dentro de casa”, comemora. Cíntia mora em Bonsucesso, na Zona Norte do Rio, e todos os dias se desloca até a Uruguaiana, no Centro do Rio, para panfletar.

Com experiência como faxineira, camareira e vendedora, Cíntia faz parte dos 7,5 milhões de desempregados no Brasil, conforme o último levantamento do IBGE. A situação de desemprego também afeta a vida de Ana Paula Coutinho, de 44 anos, desde o início do ano. O fato de ser ex-presidiária torna a busca por emprego mais difícil, segundo ela.

Ana Paula diz que ficará todos os dias de campanha balançando a bandeira de um candidato a prefeito no Centro do Rio, oito horas por dia. “Eu só precisava de uma oportunidade. Encontrei nesse ‘bico’ uma chance de quitar os dois meses de aluguel atrasado do lugar onde eu moro. Antes, eu já havia sido despejada de um outro lugar por falta de pagamento”, lembra.

Com experiência como ajudante de cozinha, Ana Paula usa a visibilidade pelas ruas do Rio para tentar fazer contatos. “Como eu fico aqui o dia todo, passa gente de muitos lugares. Estando aqui eu também consigo perguntar se alguém sabe de alguma vaga de emprego”, diz. Atualmente ela mora sozinha na Gamboa, Região Central do Rio, e se desloca para o Centro do Rio para ganhar uma renda extra.

O casal Carlos Roberto dos Santos, 47, e Derlaine Isaías, 53, atualmente distribuem panfletos para uma vereadora na entrada do metrô da Carioca, no Centro. Eles contam que a rotina é cansativa, mas que conseguem driblar algumas situações. “Aqui eles deixam a gente colocar um banquinho, então podemos sentar. Também não deixam a gente ficar no sol e dão água. Isso ajuda bastante para enfrentarmos os dias de calor até as eleições”, diz Derlaine, que costuma trabalhar informalmente vendendo panos de prato.

Carlos Roberto é vigilante, mas está desempregado há quatro anos. “Essa oportunidade de panfletar caiu do céu pra mim. É um dinheiro que me ajuda a fazer uma reforma em casa, pagar contas. Há quatro anos coloco meu currículo nos lugares, mas não me chamam”, lamenta.

Apesar da ascensão das redes sociais como ferramenta de campanha em períodos eleitorais, a panfletagem política presencial se mantém por proporcionar um contato físico com o eleitor. Carlos Lima, de 55 anos, trabalha diretamente com políticos em períodos eleitorais há 20 anos. Para essas eleições, ele conta que já conseguiu indicar 15 pessoas para a equipe de uma vereadora. Todos atualmente trabalham panfletando no município. “Muita gente me pede uma vaga, são pessoas que precisam mesmo, que estão desempregadas, que têm filhos para sustentar…”, diz.

Para conseguir uma vaga em equipes de políticos é preciso ser indicado. Geralmente essas pessoas são contratadas por conhecerem algum parente ou funcionário do candidato. Outra forma bastante usual de recrutamento é através de grupos em redes sociais. “Estou precisando de duas pessoas para panfletar na Zona Sul”; “Preciso de indicação de pessoas para panfletar”, são algumas das mensagens encontradas em grupos no Facebook.

Atividade de panfletagem é regulamentada pelo TSE

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) regulamenta o trabalho de panfletagem durante as eleições. A Resolução 23.607/2019 regula os gastos em campanhas eleitorais e a prestação de contas, incluindo a contratação dessas pessoas. O artigo 41 estabelece os limites para a contratação de pessoal destinado à militância. Já os valores oferecidos aos trabalhadores variam conforme o cargo disputado pelo candidato.

Segundo dados obtidos na plataforma Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais, do TSE, os candidatos a prefeito do Rio têm limite de gastos no 1º Turno de R$ 29.381.712,71. A quantidade limite de contratação é de 5.279 pessoas. Já para vereadores do município, o limite de gastos do 1º Turno é de R$ 2.071.008,63. Estes candidatos podem contratar até 2.640 pessoas durante a campanha.

O gasto e o limite de pessoas contratadas são calculados conforme o número de eleitores aptos para votar. No município de São Gonçalo, a segunda maior cidade em termos de eleitorado, os candidatos a prefeito têm R$ 4.046.080,33 de limite de gastos no 1º turno, podendo contratar até 935. Para vereadores, esse número cai para 468 pessoas contratadas.

De acordo com o TSE, a apuração do excesso de gastos é realizada no momento do exame da prestação de contas dos candidatos e dos partidos políticos.

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