O final da terceira noite de desfiles das escolas de samba do Grupo Especial do Rio de Janeiro foi emocionante. Antes mesmo de começar o seu desfile, já no esquenta, o intérprete da Portela, Gilsinho, começou a cantar Maria, Maria, uma das mais representativas músicas de Milton Nascimento, e foi acompanhado por todo o público presente no Sambódromo da Marquês de Sapucaí. (
Portela
O enredo da Portela neste carnaval foi Cantar será buscar o caminho que vai dar no Sol. Uma homenagem a Milton Nascimento, o cantor e compositor que entrou na avenida na última alegoria. Durante a travessia na madrugada desta quarta-feira (5), foi saudado pelo público que lotava o Sambódromo. O desfile terminou perto das 5h da manhã.
No desfile desenvolvido pelos carnavalescos André Rodrigues e Antonio Gonzaga, não faltaram referências às músicas que o artista compôs ao longo da sua carreira e às memórias de vida. Tudo estava nas fantasias e alegorias.
“É uma emoção que eu me sinto também homenageada como mineira, sou contemporânea de Milton, é uma homenagem justa, porque ele marca o cancioneiro brasileiro. É uma homenagem necessária”, disse à Agência Brasil a escritora Conceição Evaristo, que participou do desfile no alto de uma das alegorias.(
Como a azul e branco de Oswaldo Cruz e Madureira, bairros da zona norte da cidade, já esperava, ao fim da sua passagem pela Passarela do Samba o público seguiu atrás da escola até a Praça da Apoteose e transformou tudo em uma grande celebração ao cantor e compositor.
Depois do desfile, Milton não conversou com a imprensa, mas Augusto Nascimento, filho dele fez um vídeo, enquanto o pai aguardava o guindaste para sair do carro alegórico. Nele, o artista agradece a homenagem. “Hoje é o dia mais feliz da minha vida. Obrigado, Portela. Obrigado todo mundo. Um beijão”, afirmou na postagem no seu perfil do Instagram.
A noite de terça-feira foi a última das três com desfiles do Grupo Especial, considerado a elite do carnaval carioca, no Sambódromo da Marquês de Sapucaí. Essa foi uma inovação criada pela Liga das Escolas de Samba do Rio de Janeiro (Liesa) neste carnaval. Até o ano passado eram duas noites.(
Mocidade Independente de Padre Miguel
As apresentações dessa terça-feira foram abertas pela Mocidade Independente de Padre Miguel, que levou para a avenida o enredo Voltando para o Futuro, Não Há Limites pra Sonhar. A escola foi uma das poucas que não escolheram temas relacionados à cultura negra ou à religiosidade para 2025.
A carnavalesca Márcia Lage, que desde o início dos anos 90 atuava com o marido Renato Lage, passando a assinar enredos com ele em 2002, foi homenageada pela verde e branco da zona oeste no fim do desfile. Márcia morreu vítima de leucemia, em janeiro deste ano, quando mais uma vez participou do desenvolvimento de um enredo com Renato.
Marco Porto, que trabalhou no barracão na equipe de confecção de esculturas, estava bastante emocionado com o desfile e, principalmente, por participar da homenagem à carnavalesca junto a outros integrantes que, como ele, trabalharam nos preparativos do carnaval.
Eles vestiam camisas e balançavam bandeiras com a foto de Márcia. “Ela era muito presente com a gente no dia a dia. Muito honrado com o trabalho de todos no barracão e fora dele. Todo projeto que ela desenvolveu junto com o marido está aqui. A presença dela está aqui”, explicou.
Não foi a primeira vez que a Mocidade trouxe o futuro para o presente. Em 1985, Ziriguidum 2001, Um Carnaval nas Estrelas, e, em 1987, Tupinicópolis já eram enredos futuristas. Para o carnavalesco Renato Lage, a escola cumpriu a proposta e a estrela, que é símbolo da Mocidade, renasceu.(
“A gente pegou o renascimento de uma estrela e por incrível que pareça o símbolo da escola é uma estrela. A gente foi buscar nos astros”, revelou.
O samba cresceu na avenida e, para o intérprete Zé Paulo Sierra, foi resultado do trabalho forte feito na escola. “Foi legal, né? Eu gostei muito. Foi um grande trabalho com a harmonia, pessoal da bateria, a comunidade. É fruto de muito trabalho na Vila Vintém [comunidade referência da escola]. Fizemos um desfile histórico”, afirmou.
Tia Nilda, matriarca da Mocidade, 82 anos, ao terminar o desfile agradeceu a Deus por estar mais um ano na sua escola de coração depois de ter passado tantos problemas de saúde.
“O mago voltou e a estrela renasceu. Temos que agradecer todos os momentos de nossa vida. Não é só pedir, a gente tem que agradecer também e fazer por onde merecer a graça. Estou feliz, tive depressão e problemas no joelho, mas consegui estar aqui”, revelou, lembrando que tem 46 anos de Mocidade Independente, entre eles como baiana.
Um dos pontos fortes do desfile foi a comissão de frente que levantou o público cada vez que misturava os componentes com os quatro robôs, dois tipos humanoides e dois como cachorros. O coreógrafo Marcelo Misailidis disse que o desenvolvimento da comissão de frente seguiu a tecnologia e o tema futurista do enredo.
Fonte : Agencia Brasil