São João da Barra, RJ – Para quem viveu os anos 1980 em São João da Barra, é impossível esquecer a imagem imponente do Prédio do Julinho, na orla da praia de Atafona. Mais que uma construção, o edifício se tornou símbolo de uma época vibrante, em que Atafona fervilhava com turistas, veranistas e moradores que transformavam a cidade num verdadeiro polo de cultura, lazer e convivência.
O Prédio do Julinho — como ficou conhecido por ser construído e administrado por Julinho, figura respeitada e lembrada com carinho até hoje — era um ponto de referência para quem chegava à praia. Localizado de frente para o mar, sua estrutura moderna para a época e sua posição privilegiada o tornaram uma espécie de cartão-postal informal da região.
Um marco da urbanização da orla
Construído com uma arquitetura simples, porém robusta, o edifício simbolizava o avanço urbano e a ascensão de Atafona como destino turístico regional. A praia vivia seus melhores dias: ruas movimentadas, calçadão com música ao vivo, famílias inteiras passeando no fim da tarde, jovens jogando vôlei na areia e o comércio local em plena expansão.
Ao redor do prédio, restaurantes, bares, sorveterias e clubes animavam os verões, especialmente durante as festas de fim de ano e o carnaval, quando a cidade quase dobrava de população. O verão era mágico em Atafona, e o prédio era uma testemunha silenciosa dessa efervescência cultural e social.
“O Prédio do Julinho era um símbolo. Quem morava lá era visto como parte da elite da praia. E era um ponto de encontro — todo mundo sabia onde ficava, era referência para tudo”, conta um antigo morador da região.
O turismo em Atafona nos anos 80
Naquela década, Atafona atraía famílias de Campos, Niterói, Rio de Janeiro e de várias outras regiões do estado. A cidade oferecia um clima familiar, seguro e ao mesmo tempo animado. Casas de veraneio estavam sempre cheias, e muitos pequenos empreendimentos se sustentavam exclusivamente da temporada de verão.
As águas do rio Paraíba do Sul ainda não haviam avançado com a força que viriam a ter anos depois, e a erosão costeira era uma preocupação distante. O litoral era extenso, com largas faixas de areia e mar relativamente tranquilo — perfeito para banhos, esportes e momentos de lazer. O tradicional Bar do Canto, as boates, os clubes como o Atlântico e o Beira-Rio, além dos shows na Praça de Eventos, formavam um circuito agitado e inesquecível.
O turismo era espontâneo, acolhedor, simples e marcante. Eram tempos em que os vizinhos se conheciam pelo nome, as festas eram na rua e o pôr do sol em Atafona era a atração principal do fim da tarde.
O fim de uma era
Com o passar dos anos, a erosão costeira começou a mudar drasticamente o cenário da praia, levando casas, ruas e, eventualmente, atingindo o Prédio do Julinho, que acabou sendo engolido pelo mar. A imagem do edifício parcialmente submerso, com suas colunas ainda de pé, tornou-se uma das cenas mais emblemáticas da luta de Atafona contra a força da natureza.
Mesmo com a perda física, o prédio permanece vivo na memória afetiva de gerações. Ele representa um tempo em que Atafona pulsava com vida, música e encontros inesquecíveis.
Hoje, ao caminhar pela orla, muitos moradores antigos e visitantes ainda apontam para o mar e dizem com saudade:
“Ali ficava o Prédio do Julinho…”
E, com isso, revivem não apenas a lembrança de uma construção, mas de toda uma época em que Atafona era o coração vibrante de um litoral inesquecível.






